domingo, 22 de novembro de 2009

I Did It My Way

Depois de um fim de semana bem divertido chego de volta em casa. A missao é estudar, pois amanha tem prova final da matéria que eu menos gosto. Antes de armar a parafernália de textos e anotaçoes, abro o computador, vejo emails e chamo a família no Skype.


De vez em quando a vida atropela a gente. É normal, é cíclico. Em geral esses atropelamentos tem a ver com perdas. É uma relaçao que termina, um animal que morre...ou uma pessoa querida que se vai. Neste fim de tarde, ao falar com meu pai, ele me deu a notícia que eu já meio esperava. Disse simplesmente, "Ylana, seu avo já apresenta sinais de morte cerebral. Agora é questao de tempo".

Este avo, pai do meu pai, era o "seu"Adao, o avo com quem fui criada. Nao que eu nao amasse o "seu" Bruck, mas a diferença era óbvia. Enquanto eu via o "seu" Adao quase todos os dias, o "seu" Bruck (falecido há exatos 71 dias), eu via uma vez por ano e olha lá. E pra completar passei a vida ouvindo de toda a família o quanto eu era parecida com "seu" Adao. Minha mae nao cansava de dizer que eu era impaciente, respondona, ansiosa e ranzinza como ele. Também apontavam as covinhas que eram iguais, a brancura da pele, o gosto por viajar e a disposiçao por viver. Essas sao apenas algumas das características que eu dividia com ele.

Acho que eu deveria ter uns 12 ou 13 anos quando, ao me ensinar ingles, ele me disse: "Nao vai demorar nada pra voce falar muito melhor do que eu". Eu nao acreditei, mas segui estudando com o mesmo interesse até o dia que me dei conta que de fato eu já falava melhor do que ele. Mas meu vo era esperto. Me ensinou minhas primeiras palavras em italiano, espanhol e frances. Brigava sempre que minha avó lhe oferecia pao de ontem e falava, "de velho basta eu". Ele também sabia das minhas aprontaçoes pela vida. Reforçava sempre que eu deveria mesmo aproveitar, mas desde que andasse com gente igual ou melhor. Nao me criticou quando coloquei piercing e nao falou nada enquanto minha avó me dava bronca a respeito de uma pessoa com quem namorei. Ele ficava na dele, jogando palavra cruzada o dia inteiro. Ultimamente até fez conta de Skype e sempre me ligava. Inclusive essa é a última vez que o vi. Assim, pela webcam. Ele e minha avó, no sofá. Conversamos sobre quando eles viriam pra cá me visitar.

Em uma certa ocasiao fui com ele e minha avó num velório. Ele virou para a moça, filha do falecido e com a maior falta de noçao do mundo disse: "Isso é normal, querida. Os próximos somos nós". "Seu" Adao era assim mesmo. Sincero demais. Chegava a ser inconveniente. Nunca teve paciencia para o sofrimento alheio e tenho certeza de que se ele me visse chorando agora iria brigar.

O complicado de perdas desse tipo nao é para quem se vai, e sim para quem fica. Nao existe coisa mais incomoda do que ter que lidar com sofrimento dos outros quando voce já está sofrendo. Está decidido que nao vou pra casa, para enterro nem funeral. Nao vejo sentido. Mas a família está carente. E agora, o que faço? Cancelo os planos que tinha para o ano novo, peço que me substituam no trabalho e vazo para Goiania? Certeza que ele seria contra isso, haha.... se bem que lembro de quando eu morava em Montreal e ele pagou minha passagem para que eu pudesse passar o Natal e Ano Novo em casa. Muito cliché dizer isso, mas sao tantas lembranças...

Ontem, durante a festa do casamento que fui, tocaram MY WAY, do Frank Sinatra e isso me fez lembrar de "seu" Adao. Ele quem me ensinou a gostar dessas músicas "de velho". Adorava Ray Coniff e Frank Sinatra. Essa música, My Way, é a cara dele e foi super propícia para o momento. E assim termino o post, com as letras da cançao que, imagino eu, descrevem mais ou menos bem o senhor Adao Rodrigues.

I've lived a life that's full -
I've travelled each and every highway.
And more, much more than this,
I did it my way.



* A foto, que nao é a melhor, tiramos neste último Reveillon, que passamos juntos lá em Goiania. Ele, eu e Dona Ana (vovó).

3 comentários:

Kell disse...

Ai Yla... estou bem triste por vocês viu.
Beijos.

Babi disse...

é.. a vida sempre acaba nos atropelando...
das nossas perdas só restam lembraças e claro, sempre uma lição
espero que esteja bem
beijo

Patatita disse...

Eu sinto muito.


Sinto em especial por sua vozinha... Gostava dela como minha.

 
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