quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Na Zona

Há tres semanas atrás eu estava no topo do mundo. Meus pais tinham acabado de me visitar e nos divertimos muito. O trabalho ia bem, faltava pouco para terminar o segundo semestre no IEI, e havia interesses amorosos se desenvolvendo. Hoje o cenário é outro. É como se minha vida de tres semanas atrás fosse uma daquelas bolinhas que vendem em loja de presente pra turista, que voce sacode e fica "neve" voando pela pequena redoma. Eu nem diria que a neve está voando, e sim que a bolinha caiu e quebrou.

A primeira peça a cair foi a mudança familiar. Meu avo, em 10 dias, caiu e morreu. Assim, meio de repente. Ao mesmo tempo veio o stress normal de fim de semestre, desta vez exacerbado pela situaçao anterior. Dois papers para escrever, sendo um deles o projeto de dissertaçao. Dois outros trabalhos chatos e uma prova, também chata. Tudo isso acontecendo e eu sem a mínima cabeça pra pensar na crise dos partidos políticos do Chile, no conflito com o Peru, na maldita soberania internacional ou mesmo em como eu vou conciliar a teoria de utilidade esperada com a teoria de prospecçao numa análise de conflitos internacionais. Honestamente, em alguns momentos nada disso importava.

O trabalho, que parecia uma peça firme, ontem "fez o favor" de cair. Por uma questao burocrática/técnica, nao podem renovar meu contrato. Nao quero ser eu a dar a notícia aos meus alunos que, também há 3 semanas, fizeram a proposta para que eu assinasse com a empresa para todo o ano que vem.

Fiz as provas, entreguei os trabalhos. Escrevi o projeto e acredito que tenha ficado bom. Tenho falado bastante com a família e mudei radicalmente de planos. O Reveillon, que seria celebrado em Buenos Aires, ao lado de tres amigos queridíssimos, ficou pra próxima e lá vou eu pra casa, passar tempo com a vovó. Certeza que o objetivo dela é me fazer engordar todos esses kilos que perdi nessas últimas semanas. Nao sei como exatamente, mas dizem que minha presença "em casa" será importante.

Ontem, antes de deitar e dormir, me dei uns minutos para observar o céu. A lua estava cheia, linda, iluminando de maneira singular a cidade. Me lembrei de Schopenhauer, que diz algo no sentido de que nossos problemas se tornam insignificantes quando vistos desde uma perspectiva cósmica. Ou seja, quanto mais alto voce sobe, menos importante a coisa fica. E aí tudo mais ou menos fez sentido...

Parte do processo de envelhecer é encarar as sucessivas zonas de desconforto nas quais nos metemos, querendo ou nao. Tenho a impressao de que quanto mais dessas zonas voce encara na vida, mais esperto fica. Estes espaços sao físicos, intelectuais e emocionais. Ha, lembrei da teoria dos tres tabuleiros de análise das relaçoes internacionais, hahaha...tres é um número tao cabalístico. Ok, focus! O fato é que, racionalizaçao dos infortúnios ou nao, senti que estes últimos dias foram, para mim, o equivalente a um empurrao, o que me jogou para longe da minha zona de conforto. Se tres semanas atrás eu estava on the top of the world, agora estou na porta de outro mundo, bem diferente do anterior, aonde me entendo no idioma, mas ainda nao sou fluente.

Hoje, após entregar o projeto de dissertaçao, decidi aproveitar o resto do dia num clima meio assim, de férias. Nessa onda de zona de desconforto, decidi subir o morro Santa Lucia, no centro da cidade. Estava lá por perto e sempre quis ver o castelinho que tem no topo, entao o momento pareceu certo. Esse negócio de subir morro tá viciando. Mas a lógica é simples. Subir um morro (desconhecido), andando ou de bicicleta, é a mesma coisa que enfretar novas situaçoes. Dá uma p*** preguiça, ainda mais se está super calor. Além da preguiça, pode acontecer de voce nao conhecer a trilha. E no final, lá no topo, com o sol torrando o que sobrou de cérebro, voce toma o último gole de água, e admite para si mesmo que a vida sem adrenalina nao tem graça.

Essa semana recebi um email que começava bem assim: "nossa, que vida agitada hein?". Sim, que vida agitada....ainda bem!

=)

2 comentários:

Kell disse...

Nossa... muita coisa ao mesmo tempo... difícil se acomodar nessa nova zona!
Boa sorte...
Bjos!

Mestre Risada Forçada® disse...

A vida é cheia de altos e baixos [piegas/]

Mas é interessante essa subição de muro. Boa terapia, enquanto se caminha pensa-se na vida e, assim, vê-se bom no que foi ruim.

;D

 
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