quinta-feira, 8 de maio de 2008

Relato de uma história real

O relato a seguir é uma história real, que aconteceu comigo na sexta passada, dia 02 de maio de 2008, por volta das 17 horas.

*Por motivos de privacidade nomes nao foram citados. (uuuhhh...suspense!)

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Estava eu no Fran's café, um dos meus lugares preferidos de Goiania. Fui até lá pois na minha cabeça eu havia marcado com o Sr. A, amigo de longa data, com quem me encontro quase toda semana para falar de todo e qualquer assunto, desde que a conversa aconteça em Francês ou Inglês. Percebi logo que ia levar o bolo, mas aproveitei pra saborear minha smoothie de limao, que estava uma delícia. Quando finalmente terminei, levantei-me e me dirigi ao banheiro. No caminho encontrei L, uma garçonete do local. Conversamos um pouco, ela disse que tinha saído do emprego, que nao aguentou o horário - ela fazia o turno da noite, das 23 às 7. Trocamos algumas amenidades e finalmente fui ao banheiro.

Na saída, enquanto lavava minhas maos, L chegou para fazer o mesmo e me perguntou para onde eu ia.

L: Você vai pro rumo da 90?
F: Hmmm....na verdade nao, por que? Você precisa ir para lá?
L: É que eu estou com o meu pé machucado....precisava ir pro hospital. Você nao poderia me dar uma carona até o HUGO? (Hospital de Urgências de Goiania)

::::: Pequeno momento de tensao em minha cabeça:::::

Pensei comigo: eu nao conheço essa pessoa! Ela é uma garçonete com a qual troquei alguns minutos de conversa umas duas ou três vezes. E ao mesmo tempo nao encontrei nenhuma boa razao para negar a carona, já que eu tinha tempo e carro para levá-la ao hospital.

L: Sim, claro. Nao tem problema. Vamos.

Paguei a conta e fui me dirigindo ao carro, com L logo atrás, mancando.

Durante o pequeno trajeto até o carro me bateu um surto paranóico. "E se ela for uma assassina? Ok, nao, ela nao é uma assassina mas...e se ela estiver procurando algum idiota pra assaltar? E se no meio do caminho ela apontar uma arma pra mim e quiser levar todo o meu (pouco) dinheiro? Ou pior, e se for faca?" Eu nao conseguia parar de pensar que L poderia ser alguém muito mau. Entao decidi fazer o que fiz.

Logo antes de abrir o carro, parei e falei.

F: Olha, me desculpa mas...você se importaria de abrir sua bolsa pra eu dar uma olhada? É que eu sou meio paranóica com essas coisas de segurança e...

Ainda fico vermelha de me imaginar fazendo isso. Eu estava morrendo de vergonha, nao queria fazê-lo, mas... ao mesmo tempo eu nao queria das uma carona morrendo de medo. Sabia que as chances de L ser uma pessoa legal e inofensiva eram bem grandes, mas ainda assim....

Ela nao hesitou e foi logo abrindo a bolsa que, diga-se de passagem, tinha tamanho suficiente para esconder uma pequena arma ou faca. Ela ainda disse:

L: Ah, nao, nao tem problema. Hoje em dia é complicado mesmo, a gente nunca sabe com quem está andando. Eu nao me importo.

Eu dei uma rápida olhada, me sentindo meio ridicula, e abri o carro. Fomos do Fran's até o HUGO conversando sobre empregos, experiência em cafés, pessoas que frequentavam o Fran's essas coisas. Deixei L na porta do hospital, peguei o telefone dela e disse que ligaria eventualmente para saber como ela estava - ainda nao liguei! Me sentindo incrivelmente corajosa e arrogante continuei meu caminho até onde deveria chegar. Nao sabia mesmo se eu tinha sido cautelosa ou arrogante. Que diabos tinha me provocado tal surto paranóico e, o mais importante, como eu tive coragem de pedir que ela abrisse a bolsa?

Seria por que ela era negra? Meu preconceito havia chegado a tal ponto e eu nem percebi? Eu será que era apenas por que ela era pobre? Ou a combinaçao dos dois? Eu repetia pra mim mesma que isso nao tinha nada a ver, que era somente porque eu nao a conhecia, e se fosse uma outra pessoa, de qualquer cor, eu teria feito o mesmo. Será?

Logo contei a história para dona T. Ela achou um absurdo. Me chamou de "fruto dos problemas urbanos" e disse que se fosse ela que tivesse que abrir a bolsa, ela sairia do carro. E eu a chamei de "orgulhosa" e argumentei que em aeroportos e outras ocasioes nos Estados Unidos eu tive que ser revistada milhoes de vezes, e nao me senti menor por isso, dado que sabia que era tudo questao de segurança. No sábado, bebendo um chocomallow no Fran's, contei a mesma história para um grupo de amigos. A maioria disse que me entendia. Um outro amigo me chamou de "caruda" e disse que eu nao tinha legitimidade para fazer o pedido que fiz. Os que me defenderam disseram que minha legitimidade nasceu do pedido de L, que foi feito de supetao e, claro, me pegou de surpresa.

Eu ainda nao sei. Ainda me sinto mal por ter feito o que fiz. Ainda nao tive coragem de ligar para L. E se eu ligar...devo tocar no assunto e pedir desculpas? Devo fingir que nao aconteceu?

O que vocês acham? ...alguém, por favor, opine!

Ainda bem que eu tenho terapia hoje! O que será que minha terapeuta acha? Aposto que ela vai gostar de ouvir uma história diferente das minhas eternas filosofaçoes sobre meu relacionamento!....

3 comentários:

Kell disse...

Ó vida, ó céus, ó tudo!
Sinceramente? Acho que eu teria feito o mesmo... Não é nada gostoso ficar na mira de um revólver, com alguém lhe tirando aquilo que você trabalhou pra comprar. E eu sei o que digo.
Clap clap.

Y. Y. disse...

olha só... foi paranóia mesmo, mas: eu não posso dizer nada, pq eu ainda morro de facada, de tanto q eu dou carona pra novos-amigos de balada dos quais eu nao conheço a procedencia. huahuauhhu mas vc deve ligar, pedir desculpas por aquele momento engraçado e perguntar se está tudo certo. ;) :****

Renata disse...

Eu ainda sou uma boa alma...
Liga e pede desculpa pq ela dee tá achando que tu só fez isso q ela é negra e ela vai fcar achando isso e se é pra ser paranóica ela pode te processar por racismo e com base legal. E teu amigo tem razão, vc não tem legitimização (é isso emsmo? cadê a adevogada peituda do recinto?) pra olhas a bolsa dela. Vc tem direito de recusar a dar a carona, as não revistar a tia, assim como policiais homens não podem dar baculejo em fêmeas, e nenhum policial pode vasculhar sua casa (ou bolsa) sem mandato...

Fasciuta no tribunal!

 
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