quinta-feira, 27 de maio de 2010

Eu Queria Ser Um Alface

Tem dias que eu odeio ser humana. Sim, tem dia que eu queria ser planta, um alface, por exemplo. Assim eu viveria meu tempinho de vida, viraria uma salada e eventualmente retornaria ao pó da terra. Por que? Porque a condiçao humana pode ser vista como algo triste.

Hoje andei pensando... qual a grande utilidade do que eu faço? Tá, em menos de um ano eu saí da total ignorancia pra um conhecimento nada mal de teoría dos jogos. Inventei de fazer minha dissertaçao nisso, aspirando a posiçao de teorizadora das relaçoes internacionais - essa é a idea do doutorado. Pra que? O que eu sinto, na verdade, é que quanto mais eu leio/aprendo, menos eu sei. E mesmo que eu aprendesse tudo e soubesse o suficiente de teoria pra "ensinar" como se resolvem os conflitos, isso serviria de algo?

Acabo de ler no blog da Kell como ela se arrependeu de nao ter comprado algo que alguém passou na rua vendendo. Comigo aconteceu o mesmo hoje. Vi uma tia e o filho na cadeira de rodas vendendo balinha, na entrada do metro. Ao lado tinha uma outra senhora, vendendo salada. Eu nao gosto de balinha - poucas exceçoes - e por isso automaticamente descartei a idéia de gastar míseros 200 pesos (menos de 1 Real) no negócio. A salada até considerei...mas minha pressa habitual logo tratou de desistir de parar pra perguntar o preço.

Quando estou no Brasil é pior. As coisas no Brasil sao mais misturadas que aqui no Chile. E por "coisas" eu quero dizer POBREZA. No Brasil tem favela no Morumbi, menino pedindo no semáforo perto do Jaó - bairro aonde moram meus pais e que no passado foi de "alta classe". Tem também muita gente vendendo de tudo na rua - ou na praia - e também aqueles que fazem algum truque/malabarismo para os motoristas. Cresci nessa realidade. Menino na cadeira de rodas, no frio do fim de maio que faz em Santiago, nao deveria me comover muito. E em geral nao me comove. Por ter crescido numa realidade tao contrastante - rico y pobre - aprendi a ser meio autista. Na verdade acho que só assim pra aguentar. A gente poe música - ou no carro ou no ouvido - olha pra frente e vai. Aprende a falar "nao, obrigado" sem nem prestar atençao no que foi oferecido - ou nem mesmo pensar se comprar  o produto poderia ajudar a quem vende.

Supostamente sou instruída o bastante pra saber que nem meus 200 pesos ou 2 reais nao vao mudar o mundo - nem a vida de quem me vendeu qualquer coisinha na rua. Assim como minha teorizaçao das relaçoes internacionais - baseada em outro tanto de teorizaçao - nao vai resolver o conflito na faixa de Gaza, e nem mesmo salvar a vida de algum menino que foi levado por um grupo rebelde na África e é forçado a passar seus dias com a mao na terra, procurando diamantes. Todo meu tempo gasto lendo e analisando, e depois escrevendo, nao vai fazer a mínima diferença nem pro porteiro aqui do meu prédio, que recebe só o salário mínimo. Qual a validade entao?

Nao sei se é esse resfriado ou a TPM que me deixou sensível. Talvez os dois. Talvez hoje meu "autismo" auto desenvolvido resolveu dar um tempo, nao sei mesmo. Só sei que tem dia que eu queria ser um alface...

1 comentários:

Unknown disse...

Tem dias que eu penso a mesma coisa, Bee!...
Mas me conformei com o simples fato de mudar segundos/horas/dias na vida das pessoas...comprando alguma coisa que não vai ter utilidade nenhuma pra mim, um sorriso e "bom dia!" ou "muito obrigado", um abraço, um beijo ou até um aperto de mão!...
Eu sei que não vai mudar a vida das pessoas, mas muda um momento...e como dizem por aí, a vida é feita de momentos mesmo...
Enfim, é só um pensamento "positivista" que eu adotei como filosofia de vida...um estilo "free hugs" que dá na gente e pronto!haha
Anyway...todo mundo que ser um alface em algum momento da vida!Se joga!hahaha

Saudade de filosofar pessoalmente com você...

Dona L.

 
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