Hoje foi um dia importante na minha vida... e o que tornou esse dia particularmente importante foi a ocorrência da minha primeira vez. Sim, a primeira vez em que subornei um guarda foi hoje, dia 5 de Março de 2008.
Saímos de Asunción deveria ser quase 11 da manha....quem sabe até um pouco mais tarde. Eu fui dirigindo do hotel até pegar a estrada... coisa que parece simples, mas dado os hábitos malucos do paraguayos em entrar na frente dos carros sem dar seta e sem se importar com a possibilidade de um acidente, foi uma parte meio estressante.
Os arredores de Asunción é cheio de cidadezinhas igualmente feias ou até mais feias. Imagine algum fim de mundo no nordeste....sim, é desse jeito! Mas continuamos a viagem mesmo assim. O plano era fazer essa parte mais difícil do caminho e depois entregar o carro ou para a Patti ou pro David, quem quisesse dirigir. Eu só voltaria a dirigir quando chegássemos na fronteira com o Brasil. E assim fomos....conversando e procurando alguma música que prestasse nas radios locais, até finalmente chegarmos num local que julguei bom o suficiente para fazer a troca. Logo depois de um pedágio.
A Patti decidiu que queria dirigir e lá foi ela. Avisou que nao dirigia um carro manual há muito tempo (se desculpando antecipadamente) e mandou ver. Primeira, segunda....quinta marcha. O nosso Renault Clio 2008 (alugado) estava a toda potência....até que 2km depois um guardinha Paraguayo sinalizou para o carro parar.
"Fudeu!", pensei. Até entao eu só havia sido parado na estrada uma só vez, quando fui com a Fasciutta para Pirenópolis no fim do ano passado. Normalmente eu nao ficaria preocupada mas... o problema é que a Patti tava sem habilitaçao, pois havia perdido sua carteira há uma semana, em Buenos Aires. E claro, qual foi a primeira coisa que o guardinha pediu? "Habilitaçao e documentos, por favor"....
Já sabendo que a coisa nao ia ser boa, desci do carro calmamente, com documentos na mao. Mostrei ao guardinha os papéis do carro e minha habilitaçao. Tudo tentando ganhar tempo, é claro, enquanto eu pensava em alguma coisa. E nisso os outros dois, Patti e David, estavam no carro, sem entender nada, mas prevendo que ia dar merda.
Depois de ainda dar uma de desentendida, argumentei com o Sr. Sanchez que o carro estava no meu nome, que eu estava dirigindo até pouco tempo e tal. As típicas desculpas esfarrapadas de todo culpado. Ele ouviu calmamente mas logo anunciou o preço da puniçao: 795,000 Guaranys, o que seria o equivalente a um pouco mais de R$ 300 reais. Mesmo sem saber a equivalência exata na hora, vi que a coisa ia ficar feia. Em meio segundo me imaginei tendo que pagar uma multa horrível naquele país nojentinho. Imagina, dar dinheiro pra essa gente! Ou pior...vai que a polícia Paraguaya me poe na lista de procurados!? Ou meu nome fica sujo no Brasil? Sei lá, nao deu tempo de pensar muito, por isso resolvi conversar com o Sr. Sanchez.
"Mas... Sr. Sanchez...nao tem jeito da gente resolver isso de uma maneira mais fácil nao? Porque eu tô indo pro Brasil hoje, o carro é alugado, cê sabe. É complicado" (Eu com cara de Ah Neim)
"É, você sabe...a multa é cara. É de 795 mil guaranys" (Sr. Sanchez, falando com um sotaque desgracado e com cara de feliz ao cheirar o $ fácil)
"Entao, vamos resolver isso de um jeito mais fácil" (Eu, com esperança e com espanhol enrolado)
"Quanto você oferece?"
"Quanto normalmente se paga?" (Eu nao ia entregar o ouro!)
"Quanto você quer pagar?"
"Eu quero saber quanto que normalmente custa pra resolver a situaçao!" (Sem desistir da negociaçao)
"500mil?" (Ele propoe)
"Nao, tá muito caro! Eu nao tenho esse dinheiro aqui!" (E realmente nao tinha, hehe)
"Que isso, eu já tô te quebrando um galho!"
"É, mas eu nao tenho esse dinheiro aqui!"
"400 mil?" - Pausa: eu penso um pouco no assunto, faço cara de Ah Neim de novo.
"300? em dolares? Pode ser?" (A oferta....)
"O que você faz? Você é comerciante, trabalha com negócios?" (Ele falou, rindo da minha murrinhagem)
"Haha! Nao... sou consultora" (Adoro dar essa resposta, pois nao diz nada)
"Tá bom, tá bom. Vou conversar com o chefe..."
Ele atravessa a rua e fala com alguém que eu duvido fosse o chefe e logo volta.
"Pode ser. Mas... fica entre nós. Ninguém pode saber"
"Claro, claro! Eu te agradeço por facilitar as coisas! Vocês aceitam dólares, né? 65 dolares americanos, que tal?" - US$ 65 daria uns 200 e poucos, hehe...mas eu tentei! - Ele pensa um pouco....
"Nao! 300mil guaranys....75 dolares americanos!"
"Tudo bem, perfeito. Vou pegar o dinheiro".
Nessas alturas meu queridos passageiros já estavam estressados, sem saber o que se passava, mas sentindo que havia encrenca. Entao contei a situacao pra eles e pedi pra arrumarem a grana.
Rapidinho me entregaram os 250mil Guaranys e uma nota de 20 dólares, fazendo com que tudo terminasse em 70 dólares, haha!
Me aproximei do guardinha e discretamente entreguei o dinheiro, dobrado e embolado. Ele nem conferiu. Apenas sorriu e agradeceu, apertou minha mao e me disse para manter os faróis ligados na estrada porque é lei no Paraguay. E também disse que só eu deveria dirigir pois haviam outros postos de controle pela estrada.
Entrei no carro, engatei primeira e fui embora, antes que o guardinha viesse reclamar os 5 dólares que eu resolvi dar de desconto no nosso trato.
E essa foi a primeira vez em que eu subornei alguém de verdade. Comprei minha liberdade de certa forma, a liberdade de nao estar encrencada numa burocracia estatal de um lugar do qual só tenho ouvido coisas como "a corrupaçao é endêmica lá!". Ou seja, tudo terminou bem, de certa forma.
Saí do local sentindo um mixto de frustraçao com realizaçao. Nao é todo dia que você tem que negociar um suborno num país que nao é o seu, numa língua que nao é a sua. E em termos de negociaçao, esta pode ser considerada uma bem sucedida, pois consegui que ele baixasse o preço para a metade do que seria a tal multa. Entao rolou sim um pouco de orgulho pessoal e sentido de missao cumprida, realizaçao. Mas ao mesmo tempo eu alimentei o sistema corrupto deles. Internamente xinguei todos os filhos da mae que recebem subornos. E depois pensei que o Sr. Sanchez deve ganhar bem pouco, além de ter a infelicidade de nascer no Paraguay.
Enfim, caros leitores....é um assunto que ainda vai dar o que falar, mas fica pra próxima. Enquanto isso aproveito Foz do Iguaçu.
Gracias!
Saímos de Asunción deveria ser quase 11 da manha....quem sabe até um pouco mais tarde. Eu fui dirigindo do hotel até pegar a estrada... coisa que parece simples, mas dado os hábitos malucos do paraguayos em entrar na frente dos carros sem dar seta e sem se importar com a possibilidade de um acidente, foi uma parte meio estressante.
Os arredores de Asunción é cheio de cidadezinhas igualmente feias ou até mais feias. Imagine algum fim de mundo no nordeste....sim, é desse jeito! Mas continuamos a viagem mesmo assim. O plano era fazer essa parte mais difícil do caminho e depois entregar o carro ou para a Patti ou pro David, quem quisesse dirigir. Eu só voltaria a dirigir quando chegássemos na fronteira com o Brasil. E assim fomos....conversando e procurando alguma música que prestasse nas radios locais, até finalmente chegarmos num local que julguei bom o suficiente para fazer a troca. Logo depois de um pedágio.
A Patti decidiu que queria dirigir e lá foi ela. Avisou que nao dirigia um carro manual há muito tempo (se desculpando antecipadamente) e mandou ver. Primeira, segunda....quinta marcha. O nosso Renault Clio 2008 (alugado) estava a toda potência....até que 2km depois um guardinha Paraguayo sinalizou para o carro parar.
"Fudeu!", pensei. Até entao eu só havia sido parado na estrada uma só vez, quando fui com a Fasciutta para Pirenópolis no fim do ano passado. Normalmente eu nao ficaria preocupada mas... o problema é que a Patti tava sem habilitaçao, pois havia perdido sua carteira há uma semana, em Buenos Aires. E claro, qual foi a primeira coisa que o guardinha pediu? "Habilitaçao e documentos, por favor"....
Já sabendo que a coisa nao ia ser boa, desci do carro calmamente, com documentos na mao. Mostrei ao guardinha os papéis do carro e minha habilitaçao. Tudo tentando ganhar tempo, é claro, enquanto eu pensava em alguma coisa. E nisso os outros dois, Patti e David, estavam no carro, sem entender nada, mas prevendo que ia dar merda.
Depois de ainda dar uma de desentendida, argumentei com o Sr. Sanchez que o carro estava no meu nome, que eu estava dirigindo até pouco tempo e tal. As típicas desculpas esfarrapadas de todo culpado. Ele ouviu calmamente mas logo anunciou o preço da puniçao: 795,000 Guaranys, o que seria o equivalente a um pouco mais de R$ 300 reais. Mesmo sem saber a equivalência exata na hora, vi que a coisa ia ficar feia. Em meio segundo me imaginei tendo que pagar uma multa horrível naquele país nojentinho. Imagina, dar dinheiro pra essa gente! Ou pior...vai que a polícia Paraguaya me poe na lista de procurados!? Ou meu nome fica sujo no Brasil? Sei lá, nao deu tempo de pensar muito, por isso resolvi conversar com o Sr. Sanchez.
"Mas... Sr. Sanchez...nao tem jeito da gente resolver isso de uma maneira mais fácil nao? Porque eu tô indo pro Brasil hoje, o carro é alugado, cê sabe. É complicado" (Eu com cara de Ah Neim)
"É, você sabe...a multa é cara. É de 795 mil guaranys" (Sr. Sanchez, falando com um sotaque desgracado e com cara de feliz ao cheirar o $ fácil)
"Entao, vamos resolver isso de um jeito mais fácil" (Eu, com esperança e com espanhol enrolado)
"Quanto você oferece?"
"Quanto normalmente se paga?" (Eu nao ia entregar o ouro!)
"Quanto você quer pagar?"
"Eu quero saber quanto que normalmente custa pra resolver a situaçao!" (Sem desistir da negociaçao)
"500mil?" (Ele propoe)
"Nao, tá muito caro! Eu nao tenho esse dinheiro aqui!" (E realmente nao tinha, hehe)
"Que isso, eu já tô te quebrando um galho!"
"É, mas eu nao tenho esse dinheiro aqui!"
"400 mil?" - Pausa: eu penso um pouco no assunto, faço cara de Ah Neim de novo.
"300? em dolares? Pode ser?" (A oferta....)
"O que você faz? Você é comerciante, trabalha com negócios?" (Ele falou, rindo da minha murrinhagem)
"Haha! Nao... sou consultora" (Adoro dar essa resposta, pois nao diz nada)
"Tá bom, tá bom. Vou conversar com o chefe..."
Ele atravessa a rua e fala com alguém que eu duvido fosse o chefe e logo volta.
"Pode ser. Mas... fica entre nós. Ninguém pode saber"
"Claro, claro! Eu te agradeço por facilitar as coisas! Vocês aceitam dólares, né? 65 dolares americanos, que tal?" - US$ 65 daria uns 200 e poucos, hehe...mas eu tentei! - Ele pensa um pouco....
"Nao! 300mil guaranys....75 dolares americanos!"
"Tudo bem, perfeito. Vou pegar o dinheiro".
Nessas alturas meu queridos passageiros já estavam estressados, sem saber o que se passava, mas sentindo que havia encrenca. Entao contei a situacao pra eles e pedi pra arrumarem a grana.
Rapidinho me entregaram os 250mil Guaranys e uma nota de 20 dólares, fazendo com que tudo terminasse em 70 dólares, haha!
Me aproximei do guardinha e discretamente entreguei o dinheiro, dobrado e embolado. Ele nem conferiu. Apenas sorriu e agradeceu, apertou minha mao e me disse para manter os faróis ligados na estrada porque é lei no Paraguay. E também disse que só eu deveria dirigir pois haviam outros postos de controle pela estrada.
Entrei no carro, engatei primeira e fui embora, antes que o guardinha viesse reclamar os 5 dólares que eu resolvi dar de desconto no nosso trato.
E essa foi a primeira vez em que eu subornei alguém de verdade. Comprei minha liberdade de certa forma, a liberdade de nao estar encrencada numa burocracia estatal de um lugar do qual só tenho ouvido coisas como "a corrupaçao é endêmica lá!". Ou seja, tudo terminou bem, de certa forma.
Saí do local sentindo um mixto de frustraçao com realizaçao. Nao é todo dia que você tem que negociar um suborno num país que nao é o seu, numa língua que nao é a sua. E em termos de negociaçao, esta pode ser considerada uma bem sucedida, pois consegui que ele baixasse o preço para a metade do que seria a tal multa. Entao rolou sim um pouco de orgulho pessoal e sentido de missao cumprida, realizaçao. Mas ao mesmo tempo eu alimentei o sistema corrupto deles. Internamente xinguei todos os filhos da mae que recebem subornos. E depois pensei que o Sr. Sanchez deve ganhar bem pouco, além de ter a infelicidade de nascer no Paraguay.
Enfim, caros leitores....é um assunto que ainda vai dar o que falar, mas fica pra próxima. Enquanto isso aproveito Foz do Iguaçu.
Gracias!
3 comentários:
See Here or Here
Não creio que eu não estava lá pra partilhar este momento... estou frustrada!
Acho que você deveria é ter dado U$5 mais e ainda comentar "Gorjeta pelo triste fato de você ter a etiquetinha Made in Paraguay no seu traseiro."
Ô... não me recordo de nossa conversa sobre siso. Curiosa...
Besos paraguayos!
\o/
hehe
adorei! me ensina pq num dô conta! fui mal criado
¬¬
bjin
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