De vez em quando na vida a gente tem uns insights. Em geral sao pensamentos aparentemente simples, mas que explicam muita coisa. Ontem, durante o jogo que raquetebol, tive um.
Lá pelas tantas, R vira pra mim e diz: "Voce tá acabando comigo. Tá ganhando de 14-3". Eu perguntei, "Ce tem certeza?". É verdade, eu nao tinha idéia do placar. Nao conto os pontos. Só rebato a bola e tento destruir a jogada do adversário. O resto é consequencia. Essa é minha tática no jogo. Pero, comentários esportivos à parte, o fato é que logo depois do anuncio de R que eu estava a ponto de fechar o set (que acaba em 15 pontos), eu comecei a perder. Consegui errar todas as bolas até o empate 14-14. Eu sabia que isso ia acontecer. Todas as vezes que essa criatura (R) me avisa que estou ganhando, e por uma diferença grande, eu começo a perder. Fiquei com raiva de mim mesmo. Achei absurdo. Como alguém tá ganhando um jogo por mais de 10 pontos e consegue deixar empatar? Tsk tsk tsk....
O insight veio daí. Comecei a me perguntar porque eu permiti o empate. Falta de técnica? O jogo de R melhorou? Nao. Eu claramente havia sido melhor até aquele momento. Mais 1 minuto e teria ganhado o jogo sem perceber. Entao o que era sobre a declaraçao "voce está ganhando" que me desequilibrou?
Lembrei do livro Os Segredos da Mente Milionária. O autor repetiu mil vezes que as pessoas tem uma "programaçao mental", essa coisa subconsciente, que acaba levando alguns padroes se repetirem. Por exemplo, de acordo com ele, tem gente que tem uma programaçao mental contrária a ganhar dinheiro. Eu achei que o argumento - bem mais desenvolvido no livro - tinha sentido. E comecei a conjecturar que era provável que a minha programaçao mental fosse de que eu nao merecesse ganhar, e por isso "amarelei" e deixei R empatar o jogo.
Agora pensando na questao de merecer. Isso, além de ser algo da personalidade, portanto um elemento essencialmente psicológico, tem muito a ver com cultura. A cultura protestante-calvinista dos imigrantes dos Estados Unidos influenciou demais sua relaçao com o dinheiro. Para eles, a prosperidade era a própria bençao divina. Já os católicos....bem...sabemos que, por diversas razoes, o papo oficial era de que a prosperidade (dinheiro, grana, dim-dim) era pecado. O ser humano nao merecia isso. Antes de qualquer crítica, quero deixar claro que reconheço o reducionismo dos argumentos. É claro que cada idéia dessa é muito mais complexa e eu sei que o buraco é mais embaixo. Mas isso é um blog, e nao uma revista academica.
Ok, recapitulando...entao eu tava jogando e tive um insight. Entendi, por tanto, que é possível que eu esteja me auto-boicotando. Em algum lugar da minha cabeça cheia de minhoca tem uma voz, absolutamente inconsciente, mas ainda sim presente, que diz: Voce nao merece ganhar. E já pensaram nas consequencias de achar que voce nao se sentir digno de receber alguma coisa? É muito sério isso! Basta voce começar a ser bom em alguma coisinha e lá vem voce mesmo se atrapalhar. O raciocínio vale para qualquer aspecto da vida, ok?
O placar do jogo, que tava 14-14, fazia com que o set fechasse só em 16. Respirei fundo, me concentrei e fiz os dois pontos que faltavam. Ainda fomos ao RubyTuesday comer quesadillas - nossa comida preferida pós-jogo - mas nao parei de pensar. Foi quando decidi que, apesar de toda a vontade de ser justa e ética, vou começar achar que mereço as coisas. Sim, eu mereço...mereço ganhar de R no racquetball, mereço ser amada, mereço trabalhar com alguma coisa que eu goste...enfim, mereço ser feliz!
1 comentários:
Mas claaaaaaroooo que vc merece! Acabe com R no próximo jogo. Sem dó!
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