sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diário de Bordo No. 3: Salar de Uyuni - Lindo e Primitivo

Chegamos hoje (sexta) de volta ao Chile, em San Pedro de Atacama. Desde quarta estávamos em transito, no meio dos lugares mais inóspitos - e lindos - da Bolívia. Voltar pro Chile teve um gosto de voltar pra casa. E ah, que fique registrado, San Pedro parece Pirenópolis! hahaha...faltou só uma lanchonete vendendo empadao e pamonha.

Ok, vamos ao relato...vou tentar me concentrar nas melhores partes, mas como foram 3 dias intensos, aviso que esse post deve ser longo.

DIA 1 - Quarta 28/07: SALAR DE UYUNI

Chegamos pouco antes da 7 na cidade de Uyuni, na Boliviam, depois de viajar a noite toda desde La Paz. A altitude era mais ou menos a mesma, o que nao foi problema. O duro foi o frio, que tava de lascar. Pra voces terem um noçao, a janela do onibus congelou e nao dava pra ver lá fora. E foi nesse clima, gelado da p**** que descemos as malas e fomos para a agencia de viagem, aonde deixamos as malditas - que estavam bem pesadas. Ali mesmo conhecemos Sofia, uma sueca gente boa que também iria no mesmo tour. Nos cumprimentamos e, bem no estilo brasileiro, já convidei a nova amiga pra ir tomar café.

Uyuni é uma cidade bem pequena, currutelinha, como se diz em Goiás. Vive do turismo ao Salar. Na verdade só serve mesmo de base para essas tours que dali saem.

Conhecemos Yochom e Alex (Holanda) e Birgitte e Brigitte (Austria) que também iriam conosco e saímos quase as 11 da manha. Ae a primeira surpresa óbvia: todos os jipes 4X4 da cidade iam pro mesmo lado! Hahaha....e eu achando que ia ser uma daquelas viagens aonde voce se sente abandonado no meio do nada.

O primeiro dia é dedicado ao Salar especificamente. Imaginem voces 12mil kilometros quadrados de chao branco, feito de sal. Voce olha pro horizonte e ve umas montanhas - algumas delas, vulcoes. E ve a imagem espelhada no chao, como se tivesse água, hahaa...é o deserto, minha gente. Uma coisa linda, erma, no meio do nada. O céu azul maravilhoso na cabeça, o chao branco, parecendo infinito.

Almoçamos na tal Isla del Pescado (Ilha do Peixe), um morro cheio de cactus gigantes. Imagine um cacto de 9 metros...poisé, lá tinha um monte desses. O motorista era também o cozinheiro. E a comida me surpreendeu. Logo de cara ele serviu carne de Lhama. Oh, ceus...eu nao comi, fiquei com dó da bichinha. E medo também, hehehe...

Seguimos viagem pelo salar. O chao infinitamente branco, como descrito acima. Paramos para tirar fotos em perspectiva, essas que parecem de photoshop. Bem divertidas. Babei o tempo todo com as paisagens, tirei milhoes de fotos. Bati papo a viagem inteira e de quebra fui a tradutora do grupo. Só eu e R (sudacas) falávamos espanhol e ingles, e nos oferecemos para ajudar nossos amigos europeus.

No fim da tarde, saindo já do Salar, paramos numa pousadinha bem fofa. E imaginem....toda feita de sal. Os tijolos e o "grude" que junta os tijolos, tudo feito de sal. Um frio de fazer voce sonhar com os 40 graus do Rio de Janeiro e um céu lindo, lindo, lindo. R e eu até que estávamos bem preparados para o frio. Levamos jaquetas, luvas, gorrinhos, e tudo. Mas os europeus nao....hehee...coitados!

O jantar foi delicioso. Sopa de legumes e depois lasanha, feita com queijo local. Logo depois o motorista nos avisou que a luz iria acabar logo e, era bom que fossemos dormir. Isso era umas 9 da noite, hehee.... Walter (o motorista) estava certo, pois o outro dia começaria bem cedo.

DIA 2 - Quinta 29/07: O Deserto

O dia começou as 5:40am, com Walter acordando todo mundo. Logo tomamos café, carregamos o Toyota Land Cruiser com as malas, e vazamos - como se diz em Goiás, hehehe...

O frio, bem...nem precisa mais comentar. Acho que deu pra entender que tava MOITO frio! Mas assim como o céu estava lindo de noite, com direito a uma visa mágica da lua, o nascer do sol foi fantástico. E logo de manha entramos em um dos muitos desertos que visitaríamos.

A primeira parada foi num tal de Ejército de las Rocas...imaginem no meio do deserto um lugar que parece ter sido a casa de muitos recifes e corais, que agora sao pedras fossilizadas. Muito legal. A cor avermelhada-café do deserto, com seus vários tons, fazem tudo muito bonito e admirável.

A tarde, depois de visitar uns 3 lagos - sim, no meio do deserto e com direito a Flamingos - entendi porque Deus mandou os judeus pra um lugar assim - desértico, eu digo. Quando tudo o que voce consegue enxergar é areia, montanha e pedra, a sensaçao de pequenez e dependencia é enorme. Ou voce confia que alguém sabe o caminho e vai te guiar, ou bate o desespero.

No caminho vimos muitas lagoas, flamingos e vicuñas (parente da lhama). Areia sem fim. Tiramos fotos, claro. Improvisamos banheiros - viva as pedras gigantes que colaboram com a causa feminina - e conversamos temas variados, desde q incorporaçao da Turquia na Uniao Européia até as tradicionais banalidades.

De tardezinha foi a vez de parar num hotelzinho espelunca. Na verdade nem chama hotel, chama de refugio, porque é bem básico. A falta de estrutura foi compensada pela agradável companhia de nossos amigos de viagem e em seguida, de mais um jantar com direito a uma deliciosa sopa de legumes boliviana. Definitivamente, as sopas de legumes dessa viagem estavam muito gostosa!

Nesse refugio nao dava pra tomar banho. Claro que eu, eternamente obsessiva e ansiosa, havia estudado a viagem e sabia disso e, portanto, estava preparada. R e eu amenizamos a situaçao com esses lencinhos úmedos, de limpar nenem, sabe? Poisé, ajudou bastante! Até que suar a gente nao sua, pois é alto (quase 5 mil metros de altitude) e frio, mas a poeira é bem presente. Estávamos empoeirados dos pés às cabeças.

O lugar era ainda mais frio, e tive que dormir de casaco - aquele que eu usava no Canada quando fazia -20. Na verdade devia estar uns -20 lá fora, hehehe....O que eu nao entendo é como os (poucos) bolivianos vivem nesse ambiente o ano todo. Um ou dois dias de sofrimento a gente aguenta, mas coitada dessa gente que vive ae!

DIA 3 - Sexta 30/07: O Mal Humor e a Fronteira

O dia começou igual ao anterior. De madrugada e frio. A falta de estrutura, com a qual eu até entao lidei muito bem, finalmente me afetou. Nao demorou muito para que R viesse dizer que eu estava "chata". Em chileno, estar chata (le-se tchata) significa estar de mal humor, de saco cheio das coisas. E sim, eu estava bem chata. Nessas alturas da viagem eu queria fazer xixi sentada, lavar as maos e nao sentir dor por isso - agua congelando dói! - além de poder sair do jipe sem ter que colocar um gorrinho, cachecol e jaqueta, tudo pra me proteger do vento maldito.

A 4935 metros de altura - nosso recorde - o vento é muito forte. Ali vimos os tais geisers (le-se gáizer), que deixaram as malas com cheiro de enxodre. Aooo delícia! Mas foi interessante. Depois fomos a umas tais águas termales. Uma piscininha com água quente. Nada muito impressionante para quem conhece Caldas Novas, a suposta maior instancia hidrotermal do mundo - aoooo complexo de grandeza!!! Hahaha... A paisagem tava legal. Nao entrei na tal piscininha, mas fiquei pensando que, aonde tem água quente saindo da terra, ali tem vulcao. Adormecido ou nao.

A parada final foi a tal Laguna Verde, essa sim impressionante. No é de um vulcao, a cor esmeralda do lago é ma-ra-vi-lho-sa. Uma pena que eu realmente estava chata. Desci do carro, bati umas 5 fotos e voltei. Preferi admirar tudo dentro do meu lugarzinho confortável - nessas alturas eu sentava na frente.

Há 12km dali, a fronteira com o Chile. Foi a hora de despedir da gringolandia, dar uma gorgeta (10 mil pesinhos chilenos) para o Walter e entrar na van que nos deixaria em San Pedro de Atacama. A diferença Chile x Bolivia é óbvia na fronteira mesmo. Do lado do Chile tem asfalto e sinalizaçao. Do lado da Bolívia nao.

San Pedro de Atacama estava há 45km de pura descida. Se a fronteira estava na casa dos 4mil e tantos metros de altura, San Pedro está a 2500. No limite da dignidade, como eu mesma disse. Mais do que 2500 é quando as pessoas começam a passar mal. E de passar mal por altitude eu agora também entendo!

San Pedro é uma cidadezinha bem currutela, mas fofa. Lembra muito Pirenópolis. As casinhas pequenas, as lojinhas, restaurantes e tal. Encontramos logo um hotel e, depois do almoço, pra lá fomos, tomar um merecido - e necessário - banho e descansar um pouco.

Amanha já compramos o esquema de ir visitar o tal Valle de la Luna. Essa parte do mundo tem duas características básicas: este é o deserto mais árido do mundo, e também oferece os melhores observatórios de estrelas que existem. A NASA tem um observatório aqui. E amanha eu e R vamos passar a tarde vendo mais deserto, pedras e depois, com sorte, a Lua.


É isso por enquanto... post grande né? Eu avisei... Mas infelizmente resumi bastante. É difícil descrever as emoçoes provocadas numa viagem dessas. As fotos ajudam a dar uma ideia da coisa, mas só quem viveu isso mesmo para saber.

Shabat Shalom....

terça-feira, 27 de julho de 2010

Diario de Bordo No. 2 - Rumo ao Salar de Uyuni

Os ultimos dois dias foram bem tranquilos. Domingo fomos ao churrasco na casa dos pais da Monica (esposa do Patrick) e passamos a tarde por lá. Fizemos novos amigos também. O povo bolivianos é muito acolhedor e hospitaleiro. R me disse que nao pensava que lhe fossem tratar tao bem, hehehe... Outra coisa boa dos bolivianos é que sao bons pra negociar. Voce chega pra comprar um presentinho...e pergunta o preço...ae eles dizem, "20 bolivianos...mas te faço a 15". Voce deve estar pensando que isso é normal, né...mas nao! No Chile é o oposto...nego lá nao gosta quando voce pede desconto.

Segunda passamos batendo um pouco de perna pela cidade. Fomos ao Mercado de las Brujas - meu lugar favorito aqui em La Paz - e tambem aproveitamos para comprar o pacote do Sala de Uyuni (deserto de sal). Compramos umas coisinhas e almoçamos num restaurante tailandes por 30 bolivianos (menos de 10 reais). Pensa...comemos salada, sopa, prato principal e sobremesa por esse preço. Tudo fresquinho, gostoso e num ambiente muito bem decorado.... tem coisas que só a Bolivia faz pra voce.

A tarde aproveitei para trabalhar um pouco. Entrevistei o chefe de imprensa do canal do governo. Coisa pra minha dissertaçao. Foi uma boa entrevista, mas tive que me segurar para nao interrompe-lo, discordando. A toda hora me lembrava que me papel era ouvir, e nao discutir.

Hoje é dia de preparar a viagem. Saímos para Uyuni as 7 da noite e a idea é chegar lá amanha cedo. As 12, se tudo der certo, saímos para o deserto, e aí estarei incomunicável por 3 dias, até chegar em San Pedro de Atacama, no Chile. Essa viagem do Salar tá me deixando nervosa. Nao sei, acho que to velha... a coisa toda é bem primitiva. As acomodaçoes nao tem agua quente - o que significa no minimo 2 noites sem banho! Já comprei lencinhos umidecidos pra dar uma amenizada na situaçao. Fomos avisados da possibilidade de haver bloqueios de campesinos na estrada, fazendo com que a coisa toda mele. Ou também que o jipe pode quebrar. É tanta coisa pra dar errado que eu quase desisti da idéia. Mas me deu vergonha desistir, assim que hoje (terça) as 7 da noite, nos jogamos nessa aventura. Oraçoes e rezas sao bem vindas.

Quickies:

* R continua dormindo mal - por causa da altitude. Eu até durmo mais ou menos e, graças a Deus, depois de sexta nunca mais passei mal.

* 4 dias no hotel aki deram um total de 100 reais pra cada um.... atoron pagar barato! hehehe

* Comprei um gorrinho de alpaca. Ah, e luvas também.

* Emagreci. Por causa da altitude a gente tem menos fome e também enche mais rápido. Que bençao!

* Eu queria comprar metade da Bolivia, de tao barato de legal que sao as coisas aqui. Mas essa de mochilar faz a gente ir com calma. Simplesmente nao tem espaço pra muamba!


É isso, gente...fotos quem sabe no fim dessa semana, quando (se DEUS quiser) chegarmos em San Pedro.
Tomara que tudo de certo.

Suerte!

sábado, 24 de julho de 2010

Diario No. 1: Arica - La Paz...e o Mal da Altitude

Saimos de Santiago na quinta a noite. A sogra nos levou ao aeroporto e aproveitou pra me fazer tomar um anti gripal, hehehe....e foi uma boa ideia. Mas a viagem comeca a ficar interessante mesmo quando chegamos em Arica, uma cidadezinha do norte do Chile, na divisa com o Peru.

 R me disse que nosso voo Arica-La Paz sairia as 8 da manha do dia seguinte. Como chegariamos em Arica as 1 e tanto da madrugada, a ideia era ficar por ali mesmo em vez de ir a um hotel. Mas, ao chegar na tla Arica, logo vi na telinha de Departures que o proximo voo para La Paz sairia sim no dia seguinte, mas as 11.45 da manha! O fato eh que...quando vi isso, todos jah tinham tomado seus devidos taxis e, com excecao de um cafe, nao havia mais nada aberto  no aeroporto. R logo correu e falou com um tio garcom que trabalhava nesse cafe, e que ligou para um taxi  ainda nos recomendou um hotel. A impressao que ficou dessa cidade foi de que as pessoas realmente sao simpaticas.

A noite em Arica foi uma agradavel surpresa, apesar da gripe nao dar folga. Levantamos no outro dia cedo e fomos de volta para o aeroporto, que fica na frente da praia. Uma visao bonita. Mais interessante ainda eh que do aeroporto da pra ver o lado que jah pertence ao Peru.

Trinta minutinhos de voo e chegamos em La Paz. A paisagem eh maravilhosa. Imaginem que o aviao sai do nivel do mar e tem que subir mais de 4 mil metros em meia hora. A gente voa pertinha da montanha, e de quebra passa pelo maravilhoso lago Titikaka.

No aviao, ja quando aterrisamos, comecei a me sentir meio estranha, mas pensei que era exagero, psicologico, ou coisa da gripe mesmo. Saimos para o saguao da imigracao, e ali comecou. Pernas bambas, taquicardia, enjoo de estomago. Dizem que a cor sumiu do meu rosto. Realmente, foi bizarro. Assim que entrei no banheiro para vomitar, vi que tava parecendo um fantasma. Nunca achei que o baque seria tao grande.

O aeroporto de El Alto, em La Paz, fica a 4100 metro de altitude. A maior parte da cidade fica a 3660, um pouco mais baixo. No caminho ateh o hotel ainda tive que pedir pro motorista, educado e paciente, parar num acostamento para que eu pudesse, de novo, vomitar. Lindo! Jah no hotel, nos colocaram no 3o andar....lembrando que nao eh um hotel de verdade, e sim um albergue melhorzinho, o que significa qu nao tem elevador. Entoa imagina a criatura se arrastando 4 andares pelas escadas...de novo, Lindo!

R nao acreditava que a altitude lhe fosse afetar tanto. Achava qe eu exagerava quando falava do cansaco que se sente. Pra falar a verdade eu nao achava que iria sofrer tanto. Mas eh que da outra vez que estive aqui, vim de onibus....a subida foi lenta e gradual, entao no maximo senti o cansaco, mas nada de dor de cabeca, nausea e etc....

Nos jogamos na cama.... eu, com cara de quem ia morrer. Estomago enjoado, sem ar, com dor de cabeca e congestionada nas vias nasais. Lindo! R foi uma gracinha e desceu os 4 andares pra buscar chazinho de coca pra mim. A unica coisa que poderia ajudar na recuperacao. Ainda conseguimos tomar um banho e depois foi soh se jogar na cama de novo, pra dormir. Pois nao havia energia para absolutament mais nada! E assim foi a primeira tarde em La Paz. Entre cochilos e vomitos - muitos deles! - xicaras e mais xicaras de cha de coca.

Sexta a noite jah estavamos melhor, mas bem mesmo soh hoje, no sabado. Acordamos cedo, tomamos o bom cafe do albergue, e fomos dar uma volta no centrao velho de La Paz. Gente, pensa na muvuca....pensa em quando a Av. Anhnaguera (em Goiania) era cheia de camelo e imagina aquilo 10X pior. Pensa em todo mundo com cara de indio, falando uma mistura de Aymara com espanhol. Soh com muito relativismo cultural par achar bao neh!

Nem deu tempo de bater muita perna, pois o casamento do Patrick e da Monica comecava ao 12 dia. Conseguimos chegar pro amem - gracas ao coitado do taxista perdido - mas comparecemos para a festa toda, hehehehe. E teve muito bom. Sentamos com gente desconhecida e fizemos amizade. Nos trataram incrivelmente bem, Comi, dancei, conversei...uma delicia. Me emocionei tambem quando vi o Patrick chorar... tadinho! Chorei junto, hehehe...

Enfim...gracas ao cha de coca e ao repouso, conseguimos passar uma gostosa tarde em La Paz. Agora a pouco saimos para jantar. A cidade realmente eh interessante...tem essa mezcla de subdesenvolvimento que te faz querer chorar, com uma vibe exotica, e ainda uns bairros bem chiques aonde mora os que nao tem cara de indio.

Amanha levarei R ao Mercado de las Brujas, uma rua bem legal. Depois tem churrasco na casa da Monica. De agora em diante a coisa vai ser soh alegria - espero!

=)



P.S. Nao deu pra colocar fotos nesse post... pq a maquina tah lah em cima e eu nao vou subir os 4 andares soh pra ir buscar isso, hehehe....fica pra proxima.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Saindo de Férias

Mala praticamente pronta. Saco de dormir, roupas quentes, blusas, calças, calcinhas e meias. Claro, minha farmácia particular também. Dinheiro, passaporte, cartao de crédito, cartao internacional de vacinaçao. Passagens impressas, endereços também. Tudo parece estar em ordem. Só falta ir...

Enquanto isso repasso, pela milésima vez, o roteiro. O que fazer quando chegar em tal lugar, em que bolso está a maquiagem, e em qual repartiçao da mochila - sao tantas! - eu coloquei o carregador de pilhas. A TV tá ligada, mas eu nao presto atençao. A garganta já nao dói mais - amém! - mas a cabeça ainda incomoda. Nao dormi quase nada a noite. Deve ser o corpo dando recado de que cansou de ficar deitado sem fazer nada nesses últimos dias. Enfim, o jeito é deitar de novo, tentar tirar um cochilo e rezar pra hora passar logo.

Nao vejo a hora de ir ao casamento do Patrick (em La Paz), entrevistar o amigo da Monica sobre o assunto da minha dissertaçao (também em La Paz), caminhar pelo salar e lamber o chao, só pra saber se é salgado mesmo e, claro, nao poderia faltar, admirar a grandeza do céu do Atacama. Duas semanas aonde provavelmente nao dormirei muito bem, e comida também nao tenho muitas esperanças de que vai ser maravilhosa. O que importa é a aventura. Sair desse frio, dessa rotina, dessa paisagem. Nao que eu nao goste... mas eu preciso dar um tempinho de Santiago, pra voltar daqui uns dias com as baterias recarregadas e cheia de vida de novo.

Wish me luck, y'all... tentarei atualizar o blog o máximo possível!

sábado, 17 de julho de 2010

Sobre a Natureza e Expiaçoes da Alma

Ontem a noite, depois de um dia de feriado bem divertidinho, eu e R nos juntamos a Monsenhor Ariel e seu novo affair para ver um filme. Aqui em casa temos o luxo de montar um cineminha bem legal. Na porta (de vidro) que dá acesso a área colocamos um telao enorme, que cobre tudo. Usamos o datashow pra projetar o filme e conectar com o som - surround, espalhado pela cozinha e sala. O resultado é bem legal.

Já o filme de ontem foi Into the Wild (2007)...nao sei o nome em portugues. Baseado em fatos reais de um jovem que, ao terminar a faculdade, doa td seu dinheiro para uma instituiçao, muda de identidade e sai perambulando pelos EUA, com o objetivo de chegar ao Alaska. Vira andarilho por opçao, com o objetivo de negar o materialismo da sociedade. Na trama fica claro que, seu objetivo real era mesmo expiar seu passado, de dor e mágoas. E isso me fez pensar... afinal, a maneira como é filmado, te convida a isso. Muitas imagens com música e sem fala...espaços que permitem a divagaçao dos pensamentos.

Apesar de achar que o protagonista era meio troxa, me relacionei com ele em dois ponto específicos. O primeiro é que ele viajava sozinho. Numa certa altura chega a dizer que a felicidade da vida nao vem das relaçoes humanas, e sim dos lugares aonde nos sentimos verdadeiramente livres, na natureza. A segunda é que o grande motivo do seu "sumiço", como explicado acima, era a busca dessa expiaçao do próprio passado.

Eu já viajei muito sozinha, e confesso que gosto. Discordo do menino. Por experiencia própria sei que as relaçoes humanas oferecem um grau de prazer e felicidade incomparável ao prazer derivado de estar no topo de uma montanha. Na verdade nem sei se vale essa comparaçao. Sao coisas completamente distintas. Já dizia Allan de Bottom, no livro A Arte de Viajar, que estar em presença de certos lugares que a natureza oferece, lugares grandiosos - um deserto, montanha, bosque - pode provocar em nós uma sensaçao avassaladora. A grandeza de certas paisagens naturais tem o poder de nos lembrar o quanto somos pequenos, e sentir isso é incrível. Quase indescritível. Lembro muito bem de quando estive no lago Titikaka, no lado boliviano, em 2008. Foi exatamente o que eu senti. Eu acordo todos os dias e, ao olhar pela janela, me deparo com o cerro Plomo, um morro de quase 5 mil metros na cordilheira dos Andes. Apesar de estar acostumada a esta paisagem, ela ainda me provoca sensaçoes de admiraçao e respeito. De fato, a natureza nos oferece a chance de nos sentirmos pequenos e confrontar-nos com nossa própria pequenez existencial. Masa outra parte da equaçao de se sentir vivo deriva das relaçoes humanas. Aonde o ser humano se reconhece ou se desconhece. Porque já dizia a professora Sueli, da aula de Antropologia I, que nós nos conhecemos através dos outros.

O segundo ponto, o da viagem como expiaçao, me fez lembrar da minha viagem à Bolívia em 2008. Este foi o exato propósito de tal jornada. Expiar um coraçao quebrado. Toda a viagem foi devidamente relatada nesta blog, sendo este o último post do diário. Em 8 dias eu, Kell e Chu, cruzamos a Bolívia de ponta a ponta, encarando o tal Trem da Morte, Onibus que paravam a meia noite em acostamentos - para que as pessoas, incluso eu, pudessem fazer xixi - muita pobreza, muambas baratas, comidas na rua - que eu provei, apesar do medo - e outas muitas aventuras.

Longas horas na estrada, na companhia de uma dúzia de músicas do celular da Kell - porque eu descuidei e perdi o mp3! - os pensamentos deram muita volta. Voltaram ao passado, reviram cenários, buscaram respostas e soluçoes. Era como se eu buscasse a racionalizaçao de tudo para poder entender e aceitar. No dia passado no lago Titikaka, com a companhia da guia turística (exclusiva pra mim) e do tio que dirigia a lancha, foi a hora de sentir isso que eu falei nos parágrafos acima sobre o que a natureza provoca. Nunca vi água tao azul, contrastes de cor tao belos. Eu naveguei no lago mais alto de mundo, respirei um dos ares mais secos do mundo. E ali os demonios e fantamas do meu armário pareceram me dar uma folga. Já nao importavam mais. Secaram ou morreram sem ar, nao sei. Só sei que voltei a La Paz de alma lavada!

Óbvio que eu também sei que, ao voltar para Goiania, persisti no meu erro anterior. Em Goiania os demonios e os fantasmas voltaram a viver, como zumbis persistentes que se recusavam a morrer. Estavam bem enfraquecidos, sim, mas estavam ali, parasitando minha vida. Levou-se ainda alguns meses até que todos perdessem a batalha e eu reencontrasse meu verdadeiro eu, me redescobrisse. Nao foi fácil. Mas o sabor da vitória final foi tao delicioso que ainda o sinto!

Nesta semana próxima vou de volta a Bolivia. Primeira parada em La Paz, e depois para dois desertos - Salar de Uyuni e Atacama. Dessa vez viajo em paz, por puro prazer. Com uma companhia leve e gostosa. Confesso que receio nao achar tanta graça assim, hahaha...nao que eu queria expiar nada, mas...depois de tudo o que Bolibia 2008 representou, Bolivia 2010 será uma viagem totalmente distinta, e estou feliz por isso. Em 2008 eu buscava a cura...e sei que estar ali foi um primeiro passo. A companhia da época nao poderia ter sido melhor. Em 2010 eu busco a diversao, a leveza e nada mais. Dessa vez a natureza pode até me lembrar de quanto sou pequena.... mas a relaçao humana que me acompanhará - supostamente - será a responsável por lembrar-me que grande ou pequeno sao conceitos sempre relativos.

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P.S. Post escrito num sábado de manha....sem influencia de nenhuma droga, nem cafeína!

sábado, 10 de julho de 2010

Tecnologia e Moda

Se tem uma coisa que eu odeio, é sair pra comprar roupa. Mais ainda aqui no Chile. E ontem era um daqueles dias que eu saí pra comprar roupa. Claro que, quando isso acontece, é porque as coisas estao no limite. Minhas duas jaquetas estao super velhas e usada - só faz 3 anos que eu uso a mesma jaqueta, hehehe! - e também queria uma calça que nao fosse jeans, dado que em duas semanas viajo para dois desertos. Entao lá fui eu, para a triste missao que me aguardava.

Rodei as principais lojas do shopping. O Parque Arauco (shopping aqui do lado) tem 3 mega lojas de departamento, essas do estilo C&A, só que bem maiores. Fui nas 3. Rodei também o shopping inteiro. Cheguei à conclusao de que, estranhamente, a maioria das vitrines sao feitas para chamar a atençao masculina. Comparado com minha ex realidade (leia-se Goiania), ou os homens chilenos comprar muito, ou as mulheres comprar tudo para eles. Nao sei. E acho que já falei disso aqui antes.

Ok, mas vamos ao que interessa. Eu saí com a missao de comprar uma jaqueta e uma calça, rodei lojas, experimentei roupas. Xinguei (mentalmente) as mulheres chilenas por seus gostos e tamanhos. Elas sao baixinhas e sem bunda. Aqui eu sou alta e claro, com perna e bunda sobrando. Praticamente um ET. Ah, e outra...a moda chilena é super conservadora. O que há de mais informal é a maldita calça jeans. Ou seja, uma calça informal, que nao fosse jeans, mas também nao fosse pijama nem calça de malhar, é praticamente impossível de encontrar. Ah, velhos tempos em que eu ia na Wollner e tocava o terror! Saudade dessa loja. Na Hering também comprei coisas boas, mas a Wollner sempre foi tudo o que eu queria. Calças, blusinhas, shorts, até vestido eles tinham! Tudo com a minha cara. #Saudades
Fui encontrar o que eu queria numa loja chamada Doite, que é uma espécie de North Face chilena. Muito boa a Doite. Sempre gostei da loja. Tem tudo quanto é tipo de roupa pra quem sobe montanhas - nevadas ou nao - e se mete em locais inóspitos. Roupas com tecnologia, e isso eu adoro. Comecei a gostar de roupas assim, "tecnológicas", quando fui pela primeira vez um outlet da Nike em Williamsburg e...bem, toquei o terror, hehehee. Comprei vários tenis e uma calça muito massa. Roupas que tem tecidos especiais, aberturas estratégicas. Depois, mais tarde, encontrei essa mesma filosofia na Lululemon, no Canadá. O negócio com essas roupas é que...sao caras! Na Wollner também era assim e, na Doite, nao foi diferente!

Por isso que eu dei chance pras lojas do povao. Mas depois de muito comparar os preços e os produtos, decidi que eu gastaria um tanto a mais, é verdade, mas compraria exatamente o que eu tinha vontade, com a vantagem de saber que os produtos eram bons e eu poderia usa-los muito tempos. Maldiçao... por que eu nao gosto de coisa barata?  =/

Entrei na Doite, fiz o vendedor achar as calças e jaquetas que eu queria. Experimentei todas, em diferentes cores e tamanhos. Sim, mais de um tamanho me serve...e aí temos outro dilema. Escolhi o que eu queria e ainda comprei uma blusa - tipo segunda pele - maravilhosa. É uma manga longa, parece normal, mas é mais quente que qualquer blusinha brasileira. To falando, é a tecnologia. A calça é completamente impermeável, a segunda pele esquenta bastante e é feita de um tecido sintético mara...e lindo! A jaqueta, também é impermeável, além de ter opçoes de ajustes nas mangas, capuz removível e velcros em lugares estratégicos. Todo o conjunto ficou lindo....e bem caro. Mas paguei feliz...porque quando eu apaixono na roupa, já era!

E é isso...voltei pra casa com aquele sentimentozinho de culpa que sempre me dá depois que eu gasto tanto dinheiro em roupa, mas também satisfeita. Saí a noite com minha nova blusinha quentinha e vi que a decisao havia sido a melhor. E viva a tecnologia dos panos!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Goianices

Eu só queria deixar registrado que hoje, durante a aula de Português, eu ensinei minha aula a dizer: "você pulou o corguim de ré!".

Na próxima eu ensino, "aoooo saudade do meu Goiás!".






P.S. Aceito sugestoes de outras falas/expressoes/gírias que eu deva ensinar.

Adia

Hoje, sem querer, ouvi a música Adia, da Sarah McLachlan. Há uns dois anos mais ou menos eu parei de ouvir tal cançao, uma vez que já nao me provocava bons sentimentos. De fato, provocava o oposto. Porque eu sou assim...músicas, lugares, cheiros e gostos me trazem lembranças, às vezes tao fortes que chega a ser impossível (ou quase) desvincular um do outro. Entao, de vez em quanto eu acabo tendo que parar de ouvir certas músicas, comer certas coisas, ou passar por certos lugares. Louca? Obsessiva? Talvez... mas é assim que eu funciono.

Adia tocou no rádio enquanto eu preparava a aula de portugues de hoje a tarde. Parei de trabalhar para ouvir e prestar atençao na letra. A história de Sarah, quando escreveu essa música, é interessante. Ela se desentendeu feio com melhor amiga - porque começou a sair com o ex da amiga! - e cada uma foi pro seu canto. Sarah, sentindo-se muito mal com tudo isso e, como disse numa entrevista, incompleta sem a presença da outra, escreveu a cança como uma forma de pedir perdao. É até bonitinha a história. Acho lindo quando as partes se reconciliam e é de verdade, e fico feliz por Sarah. Mas nao posso concordar com uma frase da letra que diz, "we are all innocent, believe me Adia". Eu mudaria para, "we are NOT innocent". Porque raramente alguém é inocente. No entanto, é necessário uma grandeza de caráter e espírito muito grande para admitir, de verdade, as próprias faltas, a própria culpa...e nao só isso, mas buscar mudar o que se fez de errado. Meu eterno respeito e admiraçao para as pessoas que um dia já fizeram isso.

É isso...Sarah casou com o ex da sua amiga. Se reproduziu e viveu feliz para sempre até o ano passado, quando se divorciaram. Vai saber porque...

Quanto aos melhores amigos...sinto saudade dos meus. Especialmente agora que um está para casar. Infelizmente nao posso atravessar o oceano para estar ali com ele. Enquanto isso, viva a tecnologia que nos permite um contato diário.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Texto Bonitinho

Ando sem tempo e sem inspiraçao pra blogar - mesmo porque contar que fui num restaurante indiano delicioso interessa à pouco, né! Entao vai aí um texto que eu achei super legal. Voltarei em breve, assim que terminar de entregar todos os papers do fim do semestre!


Muita gente está assustada com a possibilidade de se envolver e perder a liberdade conquistada. De um lado as mulheres buscam homens mais compreensivos, de outro, os homens querem mulheres menos possessivas. O mesmo acontece no trabalho, um profissional que não está atualizado, disposto a desafios e apto para mudanças é, rapidamente, substituído por outro.

O fato é que, se queremos viver um relacionamento gostoso, porém verdadeiro, seja no casamento, namoro, ou em poucas horas, devemos aprender a nos aceitar como somos e olhar para o companheiro como um caminho para o crescimento. Estar com alguém plenamente é a possibilidade de vencer o medo da entrega e de se conhecer no íntimo.
Conviver com alguém que amamos é o mesmo que comprar um imenso espelho da alma, no qual, cada um de nossos movimentos é mostrado, sem a mínima piedade. E, é aí que começa o inferno... Ao invés de encarar a verdade e de ver a imagem temida do verdadeiro “eu”, tenta-se quebrar o “espelho”. Como? Fugindo da intimidade, culpando o outro, não assumindo as próprias responsabilidades e desacreditando o amor.
Viver com quem se ama não é apenas uma oportunidade de conhecer o outro, mas é a maior chance de entrar em contato consigo mesmo. Apenas quando nos vemos é que percebemos o medo de nós mesmos e nos aceitamos como realmente somos. Começamos, então, a nos capacitar para o amor.
O único jeito de amar é buscando a sinceridade. Infelizmente, com o passar dos anos o amor tem sido muito mais estratégico do que espontâneo. Nas revistas femininas via-se muito esse tipo de atitude: “se ele fizer isso, faça aquilo”, o que foi minando a espontaneidade do amor. Nós temos que redescobrir a forma de amar, a naturalidade do relacionamento amoroso. As pessoas precisam ter interesse genuíno no outro.Todas as maneiras de amar devem ser naturais. Quem fica estudando demais o outro, “mata” a possibilidade de amar alguém. O mundo é feito de absurdos e encontros, os absurdos fazem parte, porém, devemos entender que é possível ser feliz, acreditando dia a dia na naturalidade dos sentimentos.
Um dia, perguntaram a um grande mestre quem o havia ajudado a atingir a iluminação; e ele respondeu: “Um cachorro”. Os discípulos, surpresos, quiseram saber o que havia acontecido, e o mestre contou: “Certa vez, eu estava olhando um cachorro, que parecia sedento e se dirigia a uma poça d’água. Quando ele foi beber, viu sua imagem refletida. O cachorro, então, fez cara de assustado, e a imagem o imitou. Ele fez cara de bravo e a imagem o arremedou. Então, ele fugiu de medo e ficou observando, durante longo tempo, a água. Quando a sede aumentou, ele voltou, repetiu todo o ritual e fugiu novamente. Em um dado momento, a sede era tanta que o cachorro não resistiu e correu em direção à água, atirou-se nela e saciou sua sede.

Desde então, percebi que, sempre que eu me aproximava de alguém, via minha imagem refletida, fazia cara de bravo e fugia assustado. E ficava, de longe, sonhando com esse relacionamento que eu queria para mim. Esse cachorro me ensinou que eu precisava entrar em contato com minha sede e mergulhar no amor, sem me assustar com imagens que eu ficava projetando nos outros”. Esse é o ingrediente básico para o amor, o autoconhecimento. Projetar nossos desejos ou nossas “fobias” no outro, apenas causa uma relação de dependência ou doentia, como o desenvolvimento do ciúme ou competição.

 
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