Hoje, na hora do almoço, um dos colegas nos contava sobre sua viagem de férias ao Brasil. JP foi à Sao Paulo e Rio e curtiu muito as duas cidades. Baladou, beijou na boa, bebeu e comeu, subiu no Corcovado e no Pao de Açucar e fez o que turista faz. Até aí tudo bem, né? Eu feliz por JP ter se divertido tanto no meu país. Até ele dizer que queria voltar...pra conhecer CUritiba.
Ao indagá-lo por que essa cidade em particular, ele me contava como sua colega brasileira lhe havia dito que CUritiba era a cidade perfeita. E eu caí na risada.
Olha, nada contra a pessoa gostar da própria cidade. É até melhor, porque viver numa cidade que nao gostamos deve ser bem horrível. Mas daí a dizer que... é a cidade perfeita, tá demais. E pior, é a mesma lógica de gente idiota desinformada. Eu perguntei, "perfeita por que?". E segundo a criatura que lhe informou, era perfeita pela quantidade de áreas verdes, organizaçao e, principalmente porque todos eram descendentes de europeus. (SIC) Sim, meu sangue ferveu. Se tem uma coisa que me irrita é esse ranso de gente que se acha superior porque é "descendente de europeu". Aff!!! Em minha humilde opiniao eu, como também europeia-descentente (grande coisa!) digo que nao há pensamento mais colonial que este. Afinal, os colonos achavam que tudo o que era da metrópole era melhor. E pelo menos a última vez que chequei, esse país (Brasil) deixou de ser colonia em 1822.
Eu poderia passar o tempo aqui detonando CUritiba. Mas nao vou. A cidade realmente é bonita e organizada. Parabéns a quem a fez e mantém assim. A cidade também tem casas bem pobres e bairros que inudam. Por que digo isso? Porque eu já vi! Ah, e...eu duvido que essa mesma cidade esteja livre de afro ou indio descendentes. Desculpem, mas no Brasil isso nao é possível! Ainda bem...
Respondi a JP que o que lhe haviam dito era mentira e que, apesar de bonita e organizada, CUritiba era outra cidade brasileira qualquer. Ele quis saber se era mais bonita que o Rio.... outra risada... tadinho! O Rio é único...e olha, eu nem sou carioca hein! Deixei bem claro pra ele que quem espalha essa inverdade de que o Sul do Brasil é como a Europa...é porque nao conhece a Europa. Eu conheço tanto o Sul (os tres estados) quando a Europa (alguns países)...e por isso me sinto no direito de contestar a inverdade.
Nem sei explicar porque esse tipo de comentário me irrita tanto, mas o fato é que irrita. Eu entendo que a geografia tem um papel bem importante em nossas lembranças, formaçao de personalidade e identidade...mas daí a sair falando que um determinado lugar do mundo é o melhor...por favor, façam a ressalva que esta é a SUA opiniao. E está bem que voce ache assim...desde que voce saiba que é a SUA impressao e nao um fato!
Quanto à "superioridade" da descendencia Européia...tá aí outra coisa que me tira do sério. Igual o dia que eu ouvi uma colega o trabalho dizer que "gente bonita no Brasil só de Sao Paulo para baixo". Detalhe...do lado dela tinha um nordestino e uma goiana (eu!). Ela, no mínimo, cometeu uma senhora gafe, além de falar asneira de graça né!
Conversando com Pedrinho chegamos cada vez mais à conclusao de que os Europeus sao provincianos. E olha que ele mora na Alemanha hein, aonde supostamente as pessoas sao frias, calculistas e evoluídas. Anham, Claudia...senta lá! Vou pedir pra ele fazer um post especial sobre a provincianidade dessa gente para que ele possa nos iluminar com a verdade, haha! Já a minha impressao da Europa é das melhores. Lugares legais, com gente de todo tipo....preta, índia, bonitos e feios. Nem melhor nem pior. Assim como existe isso nos EUA, na América Latina e em outros muitos países desse mundao...
É isso... hoje o post foi desabafo. Fiquei com essa história entalada na garganta. Como eu disse, me irrito muito com certas ignorancias...e nem sei explicar porque.
A boa notícia é que...acho que estou me conformando com a vida proletária...e olha que nem tem nada a ver com dinheiro hein. Só com conformismo mesmo e a mentalidade do what you have to do. Mas isso é assunto pra outro post...
quarta-feira, 30 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
A Crise do Proletariado Educado
A mudança de trabalho, somada ao fato de que recebi visita por uns dias, atrasou minha volta à este espaço. Gosto de escrever, mas tem que ter clima. E a verdade é que quando voce passa o dia na frente de dois computadores e depois chega em casa e tem que fazer a social com a visita - que sim, é muito gente boa - no fim da noite já nao sobra muita inspiraçao. Portanto...vamos ao resumo do que passou desde o dia 3 de Março, o dia em que comecei a trabalhar na Oracle.
O primeiro dia foi num hotel. Eles chamam isso de induçao. Eu fiquei brincando, dizendo que era a abduçao. Na verdade tudo parecia um mix de primeiro dia de colégio militar dentro de um cenário aonde os personagens foram tirados da série Big Bang Theory. De 30 pessoas que eu contei, só 4 eram mulheres. Duas delas técnicas...ou seja, nerds e nao muito bonitas - pra nao esculachar e dizer que eram bem feiosas. As outras duas... eu a secretária éramos as outras...e, neste contexto, me senti bem bonita e gostosa. Foi meio entendiante, mas era parte do jogo.
Em vez de encher o texto de mera descriçao dos acontecimentos, vou partir logo pra dizer o que aconteceu, emocionalmente falando, nestas duas últimas semanas. Porque afinal os fatos sao como sao...e o que fica é como voce se sente/sentiu a respeito.
O clima e as pessoas da Oracle me pareceram ótimos desde o primeiro minuto. O problema era/tem sido o que se passa dentro da minha cabeça. De repente, ao encarar a realidade do que consiste este trabalho, eu comecei a me questionar. Teria eu perdido tempo nos últimos 6 anos que gastei estudando política internacional, teorias e coisas do tipo para terminar trabalhando numa empresa multinacional de tecnologia de informaçao? Uma empresa que, honestamente, nao se interessa pelo debate teórico neo-neo, ou mesmo com as consequencias do atual desmantelamento das estruturas políticas do Oriente Médio. Eu passei um tempao tentando decrifrar tudo isso pra terminar sentada num cubículo tentando entender problemas técnicos e ajudar clientes? Confesso, bateu um desespero.
Mas a pergunta principal e óbvia: por que eu mudei entao? A resposta, também óbvia: porque me pagam o dobro! E supostamente, numa empresa desse tamanho, existem melhores chances de crescer profissionalmente. Eu poderia ter continuado tranquila fichando bandidos fraudulentos... mas o dinheiro da Oracle paga alguns dos meu luxos, como uma academia fina e personal trainer. Com esse dinheiro eu posso, finalmente, ser independente e nao ter que gastar mais nenhum centavinho que nao fui eu que ganhei. E além de pagar minhas contas e meus luxos, eu posso "me dar o luxo" de investir em açoes da própria empresa, que compro com desconto.
E assim, racionalizando, passei a primeira semana. Fiz uma retrospectiva das grandes mudanças da minha vida. Sempre sofro no começo. Mas sei que nao é porque sou fraca - apesar de sempre achar que poderia ser mais forte. Dizem que mudança de emprego, assim como um divórcio ou uma casa, estao no topo da lista de geradores de maior estresse. Dentre essas opçoes, fico com a primeira. Melhor assim que um divórcio.
Claro que sentir-se um peão nao era algo com que eu estivesse acostumada. Além de toda a burocracia. Numa empresa com mais de 100 mil funcionários é lógico que as coisas devem seguir passos pré-definidos. Mesmo que estes passos signifiquem uma espera longa e, como dito, uma tremenda burocracia. Precisa de um mouse novo? Ah, entra no portal e pede um. Seu gerente aprova... tudo passa por um processo até chegar na Dell nos EUA e de lá eles te mandam seu mouse. Coisa similar com senhas e acessos aos milhoes de sistema que eu ainda nao sei bem para que funcionam, mas sei que preciso poder ter acesso a eles. Bem vinda ao mundo Oracle, com todos os seus portais, processos, senhas e nomes de usuário. Bem vinda ao mundo proletário. De agora pra frente é acordar de manha, ir para a fábrica, apertar parafusos - porque sim, o trabalho é bem mecanico - e depois sair de lá, repetindo para si mesma, como um mantra, que vale a pena porque no fim do mes eu poderei olhar para a minha conta e sorrir sem muitas preocupaçoes. Será? Bem vinda a alienaçao e ao emburrecimento que a vida proletária inevitavelmente nos conduz.
Talvez eu esteja fazendo muito drama. Fruto de todas essas reaçoes causadas pela mudança. O Sr. Bobinho nao esteve disponível para ouvir meus lamentos. Ele tem estado preocupado com suas próprias coisas.... graças a Deus por Dona Let e Pedrinho, que estiveram disponíveis pelo Gtalk.
Imagino que o Sr. Marx, quem eu já tanto critiquei/critico e praguejei, teria uma pontinha de orgulho de mim. Eu finalmente entendi o que significa a alienaçao do proletariado. E sim, meus amigos, eu sofro com isso. Eu sofro porque nos últimos tempos eu quis construir parte da minha identidade basada nessa história de que eu, dona Ylana, era/sou uma intelectual. Que a parte mais fantástica do meu corpo nao é minha bunda (LOL) e sim meu cérebro. E agora assim, por dinheiro, eu chuto o balde e mando o cérebro descansar. Já nao preciso muito dele. E por isso o momento de despero aonde me pergunto/perguntei: e agora, quem sou eu?
Como eu disse ali em cima, talvez eu esteja fazendo muito drama. Melhor aceitar o que disse a Lais: "fica quieta, voce tá ganhando bem". Essa é a vida adulta....e a vida adulta, no meu caso, é proletária.
Espero, sinceramente, que o dinheiro que devo receber daqui uns poucos dias, ajude a acalmar essas inquietudes tao incomodas. O dinheiro, eu sei, nao vai comprar minha felicidade. Mas vai pagar os restaurantes que eu quero ir, a academia phyna e o personal trainer, futuras férias na Europa e no Caribe, e... muito provavelmente vai acabar pagando a terapia também.
Enquanto isso eu me contento lendo livros...e pensando que assim eu mantenho algo que ainda me resta de intelectualidade. Como se isso fosse grande coisa...
O primeiro dia foi num hotel. Eles chamam isso de induçao. Eu fiquei brincando, dizendo que era a abduçao. Na verdade tudo parecia um mix de primeiro dia de colégio militar dentro de um cenário aonde os personagens foram tirados da série Big Bang Theory. De 30 pessoas que eu contei, só 4 eram mulheres. Duas delas técnicas...ou seja, nerds e nao muito bonitas - pra nao esculachar e dizer que eram bem feiosas. As outras duas... eu a secretária éramos as outras...e, neste contexto, me senti bem bonita e gostosa. Foi meio entendiante, mas era parte do jogo.
Em vez de encher o texto de mera descriçao dos acontecimentos, vou partir logo pra dizer o que aconteceu, emocionalmente falando, nestas duas últimas semanas. Porque afinal os fatos sao como sao...e o que fica é como voce se sente/sentiu a respeito.
O clima e as pessoas da Oracle me pareceram ótimos desde o primeiro minuto. O problema era/tem sido o que se passa dentro da minha cabeça. De repente, ao encarar a realidade do que consiste este trabalho, eu comecei a me questionar. Teria eu perdido tempo nos últimos 6 anos que gastei estudando política internacional, teorias e coisas do tipo para terminar trabalhando numa empresa multinacional de tecnologia de informaçao? Uma empresa que, honestamente, nao se interessa pelo debate teórico neo-neo, ou mesmo com as consequencias do atual desmantelamento das estruturas políticas do Oriente Médio. Eu passei um tempao tentando decrifrar tudo isso pra terminar sentada num cubículo tentando entender problemas técnicos e ajudar clientes? Confesso, bateu um desespero.
Mas a pergunta principal e óbvia: por que eu mudei entao? A resposta, também óbvia: porque me pagam o dobro! E supostamente, numa empresa desse tamanho, existem melhores chances de crescer profissionalmente. Eu poderia ter continuado tranquila fichando bandidos fraudulentos... mas o dinheiro da Oracle paga alguns dos meu luxos, como uma academia fina e personal trainer. Com esse dinheiro eu posso, finalmente, ser independente e nao ter que gastar mais nenhum centavinho que nao fui eu que ganhei. E além de pagar minhas contas e meus luxos, eu posso "me dar o luxo" de investir em açoes da própria empresa, que compro com desconto.
E assim, racionalizando, passei a primeira semana. Fiz uma retrospectiva das grandes mudanças da minha vida. Sempre sofro no começo. Mas sei que nao é porque sou fraca - apesar de sempre achar que poderia ser mais forte. Dizem que mudança de emprego, assim como um divórcio ou uma casa, estao no topo da lista de geradores de maior estresse. Dentre essas opçoes, fico com a primeira. Melhor assim que um divórcio.
Claro que sentir-se um peão nao era algo com que eu estivesse acostumada. Além de toda a burocracia. Numa empresa com mais de 100 mil funcionários é lógico que as coisas devem seguir passos pré-definidos. Mesmo que estes passos signifiquem uma espera longa e, como dito, uma tremenda burocracia. Precisa de um mouse novo? Ah, entra no portal e pede um. Seu gerente aprova... tudo passa por um processo até chegar na Dell nos EUA e de lá eles te mandam seu mouse. Coisa similar com senhas e acessos aos milhoes de sistema que eu ainda nao sei bem para que funcionam, mas sei que preciso poder ter acesso a eles. Bem vinda ao mundo Oracle, com todos os seus portais, processos, senhas e nomes de usuário. Bem vinda ao mundo proletário. De agora pra frente é acordar de manha, ir para a fábrica, apertar parafusos - porque sim, o trabalho é bem mecanico - e depois sair de lá, repetindo para si mesma, como um mantra, que vale a pena porque no fim do mes eu poderei olhar para a minha conta e sorrir sem muitas preocupaçoes. Será? Bem vinda a alienaçao e ao emburrecimento que a vida proletária inevitavelmente nos conduz.
Talvez eu esteja fazendo muito drama. Fruto de todas essas reaçoes causadas pela mudança. O Sr. Bobinho nao esteve disponível para ouvir meus lamentos. Ele tem estado preocupado com suas próprias coisas.... graças a Deus por Dona Let e Pedrinho, que estiveram disponíveis pelo Gtalk.
Imagino que o Sr. Marx, quem eu já tanto critiquei/critico e praguejei, teria uma pontinha de orgulho de mim. Eu finalmente entendi o que significa a alienaçao do proletariado. E sim, meus amigos, eu sofro com isso. Eu sofro porque nos últimos tempos eu quis construir parte da minha identidade basada nessa história de que eu, dona Ylana, era/sou uma intelectual. Que a parte mais fantástica do meu corpo nao é minha bunda (LOL) e sim meu cérebro. E agora assim, por dinheiro, eu chuto o balde e mando o cérebro descansar. Já nao preciso muito dele. E por isso o momento de despero aonde me pergunto/perguntei: e agora, quem sou eu?
Como eu disse ali em cima, talvez eu esteja fazendo muito drama. Melhor aceitar o que disse a Lais: "fica quieta, voce tá ganhando bem". Essa é a vida adulta....e a vida adulta, no meu caso, é proletária.
Espero, sinceramente, que o dinheiro que devo receber daqui uns poucos dias, ajude a acalmar essas inquietudes tao incomodas. O dinheiro, eu sei, nao vai comprar minha felicidade. Mas vai pagar os restaurantes que eu quero ir, a academia phyna e o personal trainer, futuras férias na Europa e no Caribe, e... muito provavelmente vai acabar pagando a terapia também.
Enquanto isso eu me contento lendo livros...e pensando que assim eu mantenho algo que ainda me resta de intelectualidade. Como se isso fosse grande coisa...
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quarta-feira, 2 de março de 2011
Entre-os-Lugares
Amo observar as montanhas no fim do dia. Deitada em minha cama volto meus olhos para a janela e ae está o Cerro Plomo com seus quase 5 mil metros de altura. Nao importa a época do ano, tem sempre neve lá em cima. Muita ou pouca, está sempre lá. As cores desse sol de verao, num fim de tarde normal e corrente, fazem com que a vista do Plomo seja quase mística...nao importa quantas vezes eu olhe. E nessa tarde que de repente se tornou melancólica, eu jogo minha mirada, mais uma vez, a esta cena... e respiro fundo.
Uma semana de férias, uma semana de Brasil. Uma semana de entre-lugares, que é aquele nome complicado pra dizer que voce já nao se sente bem em lugar nenhum. Que sempre falta alguma coisa. Faltam os amigos, falta a família, falta aquela comida. E se estes nao faltam, o que falta é a organizaçao, as ruas largas, as montanhas e a "normalidade" que agora é sinonimo da capital de um país. Nunca está completo. Sempre falta.
Nessa semana de Brasil li uma frase fantástica. Pena que esqueci o autor. Era algo mais ou menos assim: "Na vida existem dois horizontes: o da saudade, das coisas que já foram; e o da esperança, das coisas que ainda estao por vir". O conteúdo da frase expressa esse entre-lugares vivido por cada imigrante e, de alguma forma, por cada ser humano também. Estamos sempre entre um e outro. E sempre falta. Um pouquinho de breguice e eu poderia completar o parágrafo dizendo que essa "falta" é "plano de Deus" e por isso necessitamos das pessoas e zzzzzzzzzzzzzz.... mas nao estou para breguices nem pensamentos fáceis hoje.
O sol vai deixando a cidade...e as cores da montanha mudam. De rosa intenso a rosa claro...a um acinzentado. A melancolia aumenta. O espaço que nao será mais nunca preenchido também. E já que estamos em lugar nenhum, já que estamos entre um ou outro, o jeito é inventar maneiras de achar que a coisa nao é bem assim. Que venham as horas extras do trabalho, que venham as aulas com o personal trainer, que venham mais responsabilidades, que venham os filmes ganhadores e perdedores do Oscar, que venham as reprises de Friends...
Amanha as 8.30am começa outra jornada....
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